domingo, 28 de março de 2010

Saudade

Por vezes a saudade é tanta, que não há como usar mecanismos para deixá-la leve. Não é possível pintá-la, esquadrinhá-la, envolvê-la num emaranhado de palavras doces e escondê-la... Aparece, nua e crua, mesmo na escuridão do nosso ponto mais profundo.

Nesses momentos, a falta imensa do imput sensorial com a sua voz, sussurros e gemidos, o som que emana da interação com as cordas do violão, o toque na minha pele que arrepia, os beijos que me liquefazem, as mãos... o abraço... o olhar... ; precisa se transformar para não abafar. E se faz dor.

Começa atrás dos olhos, dispara a glândula lacrimal. Prossegue pela nuca e irradia para dentro da caixa torácica, alterando a respiração e a frequência cardíaca. Não se tem mais idéia da organização interna do corpo - onde vão parar os órgãos, se o vazio é tão grande? Quanto maior a lembrança, maior o rombo. Acabo invaginando, como que sendo sugada por esse buraco negro, enquanto o vazio toma conta do meu espaço. Me perco nesse espaço, não reconheço mais meus limites.

Sou ponto. Dor pura... e lágrimas.

Pouco a pouco, consigo perceber a respiração...

Começo a re-expandir de modo regular, uniforme, todos os meus infinitos pontos emanam dessa força vital centrífuga, reconstituo-me como uma esfera de superfície lisa e escorregadia, nada me segura. Passam por mim e nada fica. Passo por tudo e em nada me prendo. Não há pontos frágeis ou deformáveis para em mim penetrar. Sou rápida, veloz, intrépida, esperando que, a qualquer momento, me toque novamente com seu imput sensorial.

Talvez assim me salve! Talvez consiga evaginar e abraçar aquele mundo que um dia foi tudo.

Mas esta é uma outra conjectura...

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